NOTAS SOLTAS SOBRE A CIDADE DO PORTO - 3
A competitividade das cidades é um elemento fundamental para a qualidade de vida dos seus residentes.A competitividade é sinónimo de investimento, de criação de postos de trabalho, de negócio, de eventos, de comércio, de produção de riqueza.Há cidades que têm a vida facilitada.Pela situação geográfica que têm,pela polaridade que exercem sobre os territórios envolventes,pela monumentalidade natural ou artística que possuem,pela oferta cultural e de lazer que fazem ou por serem sede de grandes centros económico-financeiros. São as cidades de primeira linha .Londres,Roma,Nova YorK,Paris,Veneza,Barcelona,são exemplo dessas cidades competitivas, com elevado nível de vida dos seus cidadãos.São cidades em permanente crescimento.Onde se respira optimismo e confiança.Têm, naturalmente problemas mas dispõem de recursos para procurar resolvê-los.
Depois temos as cidades que já foram do 1º ranking mas que o destino ou a incúria dos homens relegou para segundo plano,como a mítica Jerusalém ou as comerciais Constantinopla e Lisboa de 1500.Procuram recuperar o seu prestígio aproveitando os desafios impostos pela globalização da economia, do comércio e das actividades artísticas e de lazer.
Por último temos a maioria das cidades .Confrontam-se com os mesmos problemas das anteriores,mas não dispôem dos mesmos recursos para lhes fazer frente.Umas com passado,outras mais recentes.São milhares.A sua dimensão se nuns casos ajuda noutros dificulta.
Todas se confrontam com uma concorrência acescida na angariação de investimentos e,nos dias de hoje, na captação de turistas. O turismo está para as cidades como o ouro negro esteve para a industria automobilista.Todas têm consciência que só as mais competitivas serão capazes de assegurar um crescimento sustentado de turistas e que isso implica a disponibilização de serviços de qualidade em áreas tão diversas como a cultura, o lazer, a gastronomia, os equipamentos de hotelaria, a higiene e limpeza das ruas, a sinalética ou a fácil mobilidade.
A cidade do Porto está neste último lote, de médias cidades.É uma cidade com história,com património classificado pela Unesco,com uma localização priveligiada no noroeste peninsular, com boas estruturas aero-portuárias,rodo e ferroviárias,com equipamentos culturais de renome internacional,como Serralves e a Casa da Música,com cidadãos empreendedores.Até o censo de 2000 era a segunda cidade do País em termos populacionais e um grande centro económico-financeiro. Era-lhe, muito justamente reconhecido o título de capital do trabalho.Há poucos anos foi capital Europeia da Cultura e local de reunião da Cimeira Ibero-Americana.Aspirava a ser o polo dinamizador do Noroeste-Peninsular congregando a força e a voz política das cidades galaico-durienses do Eixo-Atlântico.É a sala de visitas da 1ª região região vinícola demarcada do mundo e entrada para uma das mais promissoras regiões turísticas do país: O Douro Verde.
Todas estas características permitiam pensar que a cidade do Porto, no contexto das cidades médias, tinha todas as condições para ser uma cidade competitiva e dinâmica.E era. Augurava-se-lhe a liderança do noroeste-peninsular.
Hoje, tal não se verifica.A cidade do Porto, contràriamente ao expectável,entrou em crise.Após a saída do PS da Presidência do Município perdeu iniciativa. Perdeu capacidade reivindicativa.Perdeu investimento. Perdeu a relação afectiva com o povo.A população sentiu que a cidade tinha mudado,que a cidade já não era a sua cidade. As suas alegrias e as suas tristezas não eram tidas em consideração pelo poder instalado.Até ao FCPorto, o melhor embaixador da cidade era vedada a varanda dos paços do concelho para comemorar a vitória do Campeonato Português ou da Liga dos Campeões Europeus.
A ruptura da cidade consuma-se. A perda de população acentua-se.Na última década são menos 30.000 habitantes.Nos dias de hoje, estima-se que perca mais de uma dezena de pessoas por dia.Do 2º passa para o 4ºlugar no ranking das cidades portuguesas, em termos populacionais, sem que seja tomada nenhuma medida de fundo para contrariar a situação. As consequências são incomensuráveis e reflectem-se em todos os sectores da vida da cidade. É a principal causa do declínio da cidade.É uma opçao do poder político que governa o município e que quer uma cidade só para ricos.Os reflexos directos desta estratégia do Dr. Rui Rio e da sua equipe não tardaram e são catastróficos: são os edifícios desabitados e degradados, é a desertificação de quarteirões inteiros,é o fecho de lojas e a trasferência de serviços para a periferia( acompanhando as populações deslocadas),é o aumento da insegurança e a vandalização das zonas desabitadas,é a perda de empregos e a falência do pequeno comércio(uma das actividades mais características da cidade).
Os resultados indirectos não são menores: temos o encerramento ou deslocalização do comércio e serviços para os concelhos periféricos e a consequente perda de investimento e de emprego na cidade.
A agravar a situação a cidade continua sem conhecer o projecto de cidade da coligação PSD/CDS e na ausência de um poder político forte, o Governo aproveita-se para concentrar mais serviços em Lisboa(IAPMEI,INE,API) e reduzir os investimentos na região.
Mas se o Governo faz pouco (Metro,Porto 2001,SRU)a Câmara faz muito menos.O Dr. Rui Rio tem uma noção muito própria da presidência da Câmara. Comentando a gravíssima situação financeira do município de Lisboa terá mais ou menos dito: " A Câmara de Lisboa precisa é de um bom merceeiro". Estava tudo dito.
Para um empresário é de extrema importância ter conhecimento dos objectivos estratégicos do município do Porto e da Área Metropolitana. Um investimento arrasta outro e se dúvidas houvera veja-se o Metro do Porto.
Naturalmente que as causas do declínio da cidade do Porto não se resumem à perda de habitantes e aos erros e omissões do Dr. Rui Rio,como em outras reflexões sobre a cidade tive a oportunidade de referir.Mas, o Dr. Rui Rio tem a sua quota parte e não é pequena.Depois de 6 anos à frente dos destinos do Município do Porto é tempo de se excusar nos seus antecessores.Desses a obra está à vista e já prestaram contas ao eleitorado que infelizmente nem sempre é justo.Mas como diz o velho ditado:" Atrás de mim virá quem de mim bom fará".
Esta falta de estratégia e de projecto e a aversão que o Dr. Rui Rio tem pelas actividades culturais está a prejudicar gravemente a a cidade e em particular a indústria turística que podia ser um dos motores da economia local.
Como portuense não posso deixar de manifestar a minha apreensão e preocupação pelo rumo que a cidade está a seguir.É urgente de que a exemplo do que se verifica com a Regionalização e com a discussão do projecto-lei sobre as áreas metropolitanas se abra um debate sobre a nossa cidade.A riqueza e a pujança da nossa cidade são a melhor garantia do nosso bem estar futuro.
4 comentários:
Quando se colocam merceeiros à frente do Município dá nisto.
Governar a Camara do Porto não é só equilibrar as contas. É pensar no futuro.
É urgente planeamento, estudo e decisão.
Se há dinheiro para corridas e fogos de artifício não há para outras coisas?
Por vezes não é só o dinheiro que resolve. É preciso ter ideias e projectos. É preciso falar às pessoas e dar-lhe esperança.
A direita é assim. Quando não é capaz de fazer diz que não há dinheiro.
Mas o POVO votou e agora não se pode arrepender. Nas próximas eleições tem de exigir que apresentem programas claros e quantificados.
O Dr. Rui Rio só está preocupado com as corridas de automóveis e com o Metro. O resto pode esperar.
O PS Porto continua sem dar sinais de vida. Parece que o Norte e o Porto não precisam de nada. Vem aí o dinheiro da UE e não se sabe quais os projectos que foram apresentados.
Assim não vamoslá.
E os deputados alguém os vê?
E os autarcas eleitos para a Camara e Assembleia? Estão tão silenciosos que até assusta.
Força Raul Brito. Haja alguém que faça alguma coisa para se saber que o PS está vivo e recomenda-se.
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