O CASO ELEVEN VERSUS CONCESSÃO DO RIVOLI, PRAÇA DE LISBOA OU MERCADO DO BOLHÃO
Mário , Crespo, Jornalista
Destaque No caso do Eleven o que está em causa não é a defesa do investimento privado, é a salvaguarda da rendibilidade dos bens públicos
Entrevistei António Sousa Franco quatro ou cinco vezes no decurso da sua carreira política. Disse-me, durante governo de António Guterres, que havia muito dinheiro a chegar a Portugal em fundos estruturais mas que estava apreensivo quanto à forma como esse dinheiro ia ser utilizado. "Estou a tentar convencer os Ministérios e todos os departamentos em geral (incluindo Forças Armadas) a pagar rendas a valores de mercado ao Estado pelas instalações que usam, mas há muita resistência". Anotei esta declaração do Professor Sousa Franco porque era, e é, revolucionária. Ela denota um supremo respeito pela coisa pública. A propriedade imobiliária pública, que é mal gerida pelo Estado, tem sido desde sempre uma das razões do défice. "Temos que modernizar a contabilidade pública em Portugal" dizia Sousa Franco que obviamente sabia que muito do "monstro" estava escondido entre rendas, ridiculamente baixas, rendas não cobradas e ausência de rendas devidas ao Estado. O caso do restaurante Eleven, segundo dizem, o melhor de Lisboa, que paga os tais 500 Euros de renda mensal à Câmara é uma dessas surpreendentes concessões de terreno público. Haverá infindáveis e grandíloquas justificações contabilísticas para tentar dourar a pílula. Há sonoros e pungentes gritos de ultraje com o facto de se ter divulgado a renda, mas o que ressalta é que o montante que a sociedade exploradora do Eleven paga é irrisório. É irrelevante que ao fim de vinte anos as grandes marquises que o formam passem para a propriedade da Câmara de Lisboa. É que elas só valem pela beleza indescritível da cidade vista de um dos seus pontos mais altos, que acontece ser terreno público.. Uma construção com vigas de aço, alumínio e vidro, em duas décadas vai precisar de muita manutenção, dizem-me técnicos conhecedores. É pouco provável que o edifício se torne num pólo de atracção turística pelo seu depoimento arquitectónico. O valor do prédio é a sua localização. Tudo o mais é muito precário. Por outro lado, se os direitos sobre o restaurante já foram transaccionados entre o projectista que ganhou o concurso e vários dos actuais sócios do grupo explorador, porque é que não o hão-de voltar a ser logo que as mais valias se tornem tentadoras? Nesse caso, o que é que a Câmara ganha com isso? Compete à Câmara investigar e tentar rectificar um manifesto erro de gestão, senão, os 500 Euros indexados à inflação, daqui a 20 anos ainda são mais patéticos do que hoje. Em defesa alega-se um investimento de 2 Milhões de Euros feito na construção do restaurante. Como é que se chegou a esta verba? Estava explícita no concurso? Houve fiscalização do seu cumprimento? É que o que está em questão não é a defesa ou condenação de um investimento privado ou honras pessoais dos envolvidos. O que exige debate público é a salvaguarda da rendibilidade dos bens públicos, neste caso de um terreno que é uma valiosa peça de imobiliário do território português. Ao fim dos vinte anos é um activo que valerá infinitamente mais do que os dois milhões investidos. Neste sistema de concessão o rendimento fiscal é penalizado. Sendo apenas concessionária a sociedade não paga os impostos sobre o terreno. Mas já há dúvidas. O concurso para a construção do restaurante foi feito durante o executivo de coligação PS/PCP na Câmara de Lisboa. João Soares, que o dirigia, disse recentemente que pelo que se recordava havia diferenças de volumetria entre o fixado no concurso e o que está feito. O actual executivo não parece entusiasmado com o formato da concessão. José Sá Fernandes foi quem denunciou publicamente o montante da renda dando-o como um exemplo entre muitos de situações a rectificar para que o justo e necessário rendimento do terreno público seja obtido. Só que agora deve ser muito difícil rever e alterar o contrato. Pelo número de birras que a divulgação destes valores causou, parece haver poderosos defensores da continuidade deste modelo. Assim, aqui fica uma previsão. Como para grandes males, grandes remédios, seguindo a velha tradição governativa portuguesa, vai-se pedir um ou dois pareceres. Perde-se dinheiro por todo o lado, mas parece muito melhor.
Mário Crespo escreve no JN
Mário Crespo indigna-se com as condições com que a Câmara de Lisboa concessionou o ELEVEN. Também me parece que a concessão foi mal negociada.Dois milhões de euros de investimento privado e uma renda de 500 € não nos parece um bom negócio para a Câmara.No entanto muito do seu arrazoado acaba por lançar um ónus moral muito elevado sobre os concessionários desse equipamento, fazendo-os aparecer como uns oportunistas, que se aproveitaram da ingenuidade ou cumplicidade da autarquia.Ora,houve um concurso público e, assim sendo, temos que acreditar que o mesmo decorreu com lisura, transparência e na maior legalidade.Se não foi assim, então chame-se o assunto à área judicial e punam-se os responsáveis.O que me choca em certo jornalismo é o ajuste de contas através do aproveitamento de situações fàcilmente exploráveis.Por muito que se queira escamotear há um alvo nesta questão das concessões da Câmara de Lisboa: o Dr. José Miguel Jùdice, o que é lamentável.
Mário Crespo levanta, no entanto, uma questão da maior premência e oportunidade.Não basta haver concurso para o interesse público estar salvaguardado. É preciso que em determinados negócios camarários ou do Estado haja uma consulta prévia duma entidade como o Tribunal de Contas que garanta a salvaguarda desses interesses.
Casos de concessões em fase de negociação, como as do Rivoli, Praça de Lisboa e Mercado de Bolhão,já deveriam passar pelo crivo de uma entidade como o Tribunal de Contas, se queremos evitar repetições como as ocorridas na cidade de Lisboa.
Se outro mérito não tiver a chamada de atenção de Mário Crespo, ao menos que tenha servido, para moralizar o modelo de concessões públicas em Portugal.
Raul Brito
2 comentários:
Eu acrescentaria: Mercado Ferreira Borges, Palácio de Cristal, Palácio do Freixo, Mercado do Bom Sucesso, Quinta da Conceição, Água, Lixos, e tudo que os autarcas estão a saldar ao desbarato.
Oh Raul estás tramado.
O Carlos chegou e aí vai lista.
Estou é admirado de não bombar mais.
Vem mais calmo o nosso Camarada!!! Não achas Raul???
O que é que lhe fizeram potr lá??
Não sei,não...
Começo a ficar desconfiado.
Saudações de esquerda
Olhar atento*militante de esquerda
Saudações de esquerda
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